Página:Contos fluminenses.djvu/181

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— Aposto que vais casar? disse-lhe.

— Não sei se vou casar; sei que amo, e espero acabar por casar-me com a mulher a quem amo.

— Casar! exclamou Baptista.

E soltou uma estridente gargalhada.

Mas Gomes fallava tão seriamente, insistia com tanta gravidade n’aquelles projectos de regeneração, que os dous amigos acabárão por ouvil-o com igual seriedade.

Gomes fallava uma linguagem estranha, e inteiramente nova na boca de um rapaz que era o mais doudo e ruidoso nos festins de Baccho e de Cythera.

— Assim, pois, deixas-nos? perguntou Vasconcellos.

— Eu? Sim e não; encontrar-me-hão nas salas; nos hoteis e nas casas equivocas, nunca mais.

De profundis... cantarolou Baptista.

— Mas a final de contas, disse Vasconcellos, onde está a tua Marion? Póde-se saber quem ella é?

— Não é Marion, é Virginia... Pura sympathia ao principio, depois affeição pronunciada, hoje paixão verdadeira. Lutei emquanto pude; mas abati as armas diante de uma força maior. O meu grande medo era não ter uma alma capaz de offerecer a essa gentil creatura. Pois tenho-a, e tão fogosa, e tão virgem como no tempo dos meus dezoito annos. Só o casto olhar de uma virgem poderia descobrir