Página:Contos fluminenses.djvu/232

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tua filhinha. Lembrei-me que para tomar parte na tua festa de familia, tinha começado um mez antes um trabalhozinho. Cumpria rematal-o.

Uma quinta-feira de manhã mandei vir os preparos da obra e ia continual-a, quando descobri dentre uma meada de lã um envolucro azul fechando uma carta.

Estranhei aquillo. A carta não tinha indicação. Estava collada e parecia esperar que a abrisse a pessoa a quem era endereçada. Quem seria? Seria meu marido? Acostumada a abrir todas as cartas que lhe erão dirigidas, não hesitei. Rompi o envolucro e descobri o papel côr de rosa que vinha dentro.

Dizia a carta:

« Não se sorprenda, Eugenia; este meio é o do desespero, este desespero é o do amor. Amo-a e muito. Até certo tempo procurei fugir-lhe e abafar este sentimento; não posso mais. Não me vio no theatro Lyrico? Era uma força occulta e interior que me levava alli. Desde então não a vi mais. Quando a verei? Não a veja embora, paciencia; mas que o seu coração palpite por mim um minuto em cada dia, é quanto basta a um amor que não busca nem as venturas do gozo, nem as galas da publicidade. Se a offendo, perdôe um peccador; se póde amar-me, faça-me um deos. »