Página:Contos fluminenses.djvu/234

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mente, uma especie de terror que infundia o abysmo, abysmo profundo que eu presentia atrás d’aquella carta; depois uma vergonha amarga de ver que eu não estava tão alta na consideração d’aquelle desconhecido, que pudesse demovêl-o do meio que empregou.

Quando o meu espirito se acalmou é que eu pude fazer a reflexão que devia acudir-me desde o principio. Quem poria alli aquella carta? Meu primeiro movimento foi para chamar todos os meus famulos. Mas deteve-me logo a idéa de que por uma simples interrogação nada poderia colher e ficava divulgado o achado da carta. De que valia isto?

Não chamei ninguem.

Entretanto, dizia eu comigo, a empreza foi audaz; podia falhar a cada tramite; que movel impellio áquelle homem a dar este passo? Seria amor, ou seducção?

Voltando a este dilemma, meu espirito, apezar dos perigos, comprazia-se em aceitar a primeira hypothese: era a que respeitava a minha consideração de mulher casada e a minha vaidade de mulher formosa.

Quiz adivinhar lendo a carta de novo: li-a, não uma, mas duas, tres, cinco vezes.

Uma curiosidade indiscreta prendia-me áquelle papel. Fiz um esforço e resolvi aniquilal-o, protes-