Página:Contos fluminenses.djvu/235

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tando que ao segundo caso nenhum escravo ou criado me ficaria em casa.

Atravessei a sala com o papel na mão, dirigi-me para o meu gabinete, onde acendi uma vela e queimei aquella carta que me queimava as mãos e a cabeça.

Quando a ultima faisca do papel ennegreceu e voou, senti passos atrás de mim. Era meu marido.

Tive um movimento espontaneo: atirei-mei em seus braços.

Elle abraçou-me com certo espanto.

E quando o meu abraço se prolongava senti que elle me repellia com brandura dizendo-me:

— Está bom, olha que me afogas!

Recuei.

Entristeceu-me ver aquelle homem, que podia e devia salvar-me, não comprehender, por instincto ao menos, que se eu o abraçava tão estreitamente era como se me agarrasse á idéa do dever.

Mas este sentimento que me apertava o coração passou um momento para dar lugar a um sentimento de medo. As cinzas da carta ainda estavão no chão, a vela conservava-se acesa em pleno dia; era bastante para que elle me interrogasse.

Nem por curiosidade o fez!