Página:Contos fluminenses.djvu/243

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— Fiz mal em trazêl-o aqui?

— Mal, porque? perguntei eu.

— Por cousa nenhuma. Que mal havia de ser? É um homem distincto...

Puz termo ao novo louvor do rapaz, chamando um escravo para dar algumas ordens.

E retirei-me ao meu quarto.

O somno d’essa noite não foi o somno dos justos, pódes crer. O que me irritava era a preoccupação constante em que eu andava depois destes acontecimentos. Já eu não podia fugir inteiramente a essa preoccupação: era involuntaria, subjugava-me, arrastava-me. Era a curiosidade do coração, esse primeiro signal das tempestades em que succumbe a nossa vida e o nosso futuro.

Parece que aquelle homem lia na minha alma e sabia apresentar-se no momento mais proprio à occupar-me a imaginação como uma figura poetica e imponente. Tu, que o conheceste depois, dize-me se, dadas as circumstancias anteriores, não era para produzir esta impressão no espirito de uma mulher como eu!

Como eu, repito. Minhas cireumstancias erão especiaes, se não o soubeste nunca, suspeitaste-o ao menos.

Se meu marido tivesse em mim uma mulher, e se eu tivesse n’elle um marido, minha salvação era