Página:Contos fluminenses.djvu/251

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Passou-se meia hora.

Nossa conversa foi sobre assumptos indiferentes.

Em um dos intervalos de conversa Emilio levantou-se e foi á janella. Eu levantei-me igualmente para ir ao piano buscar um leque. Voltando para o sofá reparei pelo espelho que Emilio me olhava com um olhar estranho. Era uma transfiguração. Parecia que n’aquelle olhar estava concentrada toda a alma d’elle.

Estremeci.

Todavia fiz um esforço sobre mim e fui sentar-me, então mais séria que nunca.

Emilio encaminhou-se para mim.

Olhei para elle.

Era o mesmo olhar.

Baixei os meus olhos.

— Assustou-se? perguntou-me elle.

Não respondi nada. Mas comecei a tremer de novo e parecia-me que o coração me queria pular fóra do peito.

É que n’aquellas palavras havia a mesma expressão do olhar; as palavras fazião-me o effeito das palavras da carta.

— Assustou-se? repetio elle.

— De que? perguntei eu procurando rir para não dar maior gravidade á situação.

— Pareceu-me.