Página:Contos fluminenses.djvu/261

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E dizendo isto lançou-me um olhar tão sinistro que eu tive medo.

— Passar? passar como?

-— De algum modo.

— Não diga isso...

— Que me resta mais na terra?

E voltou os olhos para enxugar uma lagrima.

— Que é isso? disse eu. Está chorando?

— As ultimas lagrimas.

— Oh! se soubesse como me faz soffrer! Não chore; eu lh’o peço. Peço-lhe mais. Peço-lhe que viva.

— Oh!

— Ordeno-lhe.

— Ordena-me? E se eu não obedecer? Se eu não puder?... Acredita que se possa viver com um espinho no coração?

Isto que te escrevo é feio. A maneira por que elle fallava é que era apaixonada, dolorosa, commovente. Eu ouvia sem saber de mim. Approximavão-se algumas pessoas. Quiz pôr termo á conversa e disse-lhe:

— Ama-me? disse eu. Só o amor póde ordenar? Pois é o amor que lhe ordena que viva!

Emilio fez um gesto de alegria. Levantei-me para ir fallar ás pessoas que se approximavão.

— Obrigado, murmurou-me elle aos ouvidos.