Página:Contos fluminenses.djvu/262

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Quando, no fim do serão, Emilio se despedio de mim, dizendo-me, com um olhar em que a gratidão e o amor irradiavão juntos: — Até amanhã! — não sei que sentimento de confusão e de amor, de remorso e de ternura se apoderou de mim.

— Bem; Emilio está mais alegre, dizia-me meu marido.

Eu olhei para elle sem saber o que responder.

Depois retirei-me precipitadamente. Parecia-me que via n’elle a imagem da minha consciencia.

No dia seguinte recebi de Emilio esta carta:

« Eugenia. Obrigado. Torno-me á vida, e á senhora o devo. Obrigado! fez de um cadaver um homem, faça agora de um homem um deos. Animo! animo! »

Li esta carta, reli, e... dir-t’o-hei, Carlota? beijei-a. Beijei-a repetidas vezes com alma, com paixão, com delirio. Eu amava! eu amava!

Então houve em mim a mesma luta, mas estava mudada a situação dos meus sentimentos. Antes era o coração que fugia á razão, agora a razão fugia ao coração.

Era um crime, eu bem o via, bem o sentia; mas não sei qual era a minha fatalidade, qual era a minha natureza, eu achava nas delicias do crime desculpa ao meu erro,e procurava com isso legitimar a minha paixão.