Página:Contos fluminenses.djvu/326

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— O que sei, é que uma d’estas tardes em que adormeceste lendo, não sei que livro, ouvi-te pronunciar em sonhos, com a maior ternura, o nome de Emilia.

— Devéras? perguntou Tito mastigando.

— É exacto. Conclui que se sonhavas com ella é que a tinhas no pensamento, e se a tinhas no pensamento é que a amavas.

— Concluiste mal.

— Mal?

— Concluiste como um marido de cinco mezes. Que prova um sonho?

— Prova muito!

— Não prova nada! Pareces velha supersticiosa...

— Mas emfim, alguma cousa ha por força... Serás capaz de me dizeres o que é?

— Homem, podia dizer-te alguma cousa se não fosses casado...

— Que tem que eu seja casado?

— Tem tudo. Seria indiscreto sem querer e até sem saber. Á noite, entre um beijo e um bocejo, o marido e a mulher abrem um para o outro a bolsa das confidencias. Sem pensares, pódes deitar tudo a perder.

— Não digas isso. Vamos lá. Ha novidade?

— Não ha nada.