Página:Contos fluminenses.djvu/333

Wikisource, a biblioteca livre

conversas das villas proximas e o objecto do terror que experimentavão os viajantes que passavão na estrada a dous passos da casa.

« A propria casa era já de causar apprehensões ao espirito menos timorato. Vista de longe nem parecia casa, tão baixinha era. Mas quem se approximasse conheceria aquella construcção singular. Metade do edificio estava ao nivel do chão, e metade abaixo da terra. Era entretanto uma casa solidamente construida. Não tinha porta nem janellas. Tinha um vão quadrado que servia ao mesmo tempo de janella e de porta. Era por alli que o mysterioso morador entrava e sahia.

« Pouca gente o via sahir, não só porque elle raras vezes o fazia, como porque o fazia em horas improprias. Era nas horas da lua cheia que o solitario deixava a residencia para ir passear nos arredores. Levava sempre comsigo um grande macaco, que acudia pelo nome de Caligula.

« O macaco e o homem, o homem e o macaco, erão dous amigos inseparaveis, dentro e fóra de casa, na lua nova.

« Mil visões corrião a respeito d’este mysterioso solitario.

« A mais geral é que era um feiticeiro. Havia uma que o dava por doudo; outra por simplesmente atacado de misanthropia.