Página:Contos fluminenses.djvu/67

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me embora. É melhor; só imponho uma condição: é que ambos hão de ir depois lá para casa; temos ceiata.

— Valeu! disse Pires.

Victoria sahio; os dous rapazes ficárão sós.

Pires era o typo do bisbilhoteiro e leviano. Em lhe cheirando novidade preparava-se para instruir-se de tudo. Lisonjeava-o a confiança de Soares, e adivinhava que o rapaz ia communicar-lhe alguma cousa importante. Para isso assumio um ar condigno com a situação. Sentou-se commodamente em uma cadeira de braços; pôz o castão da bengala na boca e começou o ataque com estas palavras:

— Estamos sós; que me queres?

Soares confiou-lhe tudo; leu-lhe a carta do banqueiro; mostrou-lhe em toda a nudez a sua miseria. Disse-lhe que n’aquella situação não via solução possivel, e confessou ingenuamente que a idéa do suicidio o havia alimentado durante longas horas.

— Um suicidio! exclamou Pires; estás doudo.

— Doudo! respondeu Soares; entretanto não vejo outra sahida n’este becco. Demais, é apenas meio suicidio, porque a pobreza já é meia morte.

— Convenho que a pobreza não é cousa agradavel, e até acho...