Página:Contos fluminenses.djvu/68

Wikisource, a biblioteca livre

Pires interrompeu-se; uma idéa subita atravessára-lhe o espirito: a idéa de que Soares acabasse a conferencia por pedir-lhe dinheiro. Pires tinha um preceito na sua vida; era não emprestar dinheiro aos amigos. Não se empresta sangue, dizia elle.

Soares não reparou na phrase cortada do amigo, e disse:

— Viver pobre depois de ter sido rico... é impossivel.

— N’esse caso que me queres tu? perguntou Pires, a quem pareceu que era bom atacar o touro de frente.

— Um conselho.

— Inutil conselho, pois que já tens uma idéa fixa.

— Talvez. Entretanto confesso que não se deixa a vida com facilidade, e má ou boa, sempre custa morrer. Por outro lado, ostentar a minha miseria diante das pessoas que me vírão rico é uma humilhação que eu não aceito. Que farias tu no meu lugar?

— Homem, respondeu Pires, ha muitos meios...

— Venha um.

— Primeiro meio. Vai para New-York e procura uma fortuna.

— Não me convem; n’esse caso fico no Rio de Janeiro.