Página:Contos fluminenses.djvu/75

Wikisource, a biblioteca livre

Soares protestou que era sincero. Disse que fôra dissipado e doudo, mas que aos trinta annos era justo ter juizo. Reconhecia agora que o tio sempre tivera razão. Suppôz ao principio que erão simples rabugices de velho, e mais nada; mas não era natural esta leviandade n’um rapaz educado no vicio? Felizmente corrigia-se a tempo. O que elle agora queria era entrar em bom viver, e começava por aceitar um emprego publico que o obrigasse a trabalhar e fazer-se serio. Tratava-se de ganhar uma posição.

Ouvindo o discurso de que fiz o extracto acima, o major procurava adivinhar o fundo do pensamento de Soares. Seria elle sincero? O velho concluio que o sobrinho fallava com a alma nas mãos. A sua illusão chegou ao ponto de ver-lhe uma lagrima nos olhos, lagrima que não appareceu, nem mesmo fingida.

Quando Soares acabou, o major estendeu-lhe a mão e apertou a que o rapaz lhe estendeu tambem.

— Creio, Luiz. Ainda bem que te arrependeste a tempo. Isso que vivias não era vida nem morte; a vida é mais digna e a morte mais tranquilla do que a existencia que malbarataste. Entras agora em casa como um filho prodigo. Terás o melhor lugar á mesa. Esta familia é a mesma familia.

O major continuou por este tom; Soares ouvio a