Página:Contos fluminenses.djvu/78

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porque o aborrecesse a monotonia e a fadiga do trabalho. Com o fim de impedir o desastre, lembrou-se de inspirar-lhe ambição politica. Pensava o major que a politica seria um remédio decisivo para aquelle doente, como se não fosse conhecido que os louros de Lovelace e os de Turgot andão muita vez na mesma cabeça.

Soares não desanimou o major. Disse que era natural acabar a sua existencia na politica, e chegou a dizer que algumas vezes sonhára com uma cadeira no parlamento.

— Pois eu verei se te posso arranjar isto, respondeu o tio. O que é preciso é que estudes a sciencia da politica, a historia do nosso parlamento e do nosso governo; e principalmente é preciso que continues a ser o que és hoje: um rapaz serio.

Se bem o dizia o major, melhor o fazia Soares, que desde então metteu-se com os livros e lia com afinco as discussões das camaras.

Soares não morava com o tio, mas passava lá todo o tempo que lhe sobrava do trabalho, e voltava para casa depois do chá, que era patriarcal, e bem differente das ceiatas do antigo tempo.

Não affirmo que entre as duas phases da existencia de Luís Soares não houvesse algum elo de união, e que o emigrante das terras de Gnido não fizesse de quando em quando alguma excursão á