Página:Contos fluminenses.djvu/81

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amára o primo, não com um simples amor de primos, que em geral resulta da convivencia e não de uma subita attracção. Amára-o com todo o vigor e calor de sua alma; mas já então o rapaz iniciava os seus passos em outras regiões e ficou indifferente aos affetos da moça. Um amigo que sabia do segredo perguntou-lhe um dia por que razão não se casava com Adelaide, ao que o rapaz respondeu friamente:

— Quem tem a minha fortuna não se casa; mas se se casa é sempre com quem tenha mais. Os bens de Adelaide são a quinta parte dos meus; para ella é negócio da China; para mim é um máo negocio.

O amigo que ouvíra esta resposta não deixou de dar uma prova da sua affeição ao rapaz indo contar tudo á moça. O golpe foi tremendo, não tanto pela certeza que lhe dava de não ser amada, como pela circumstancia de nem ao menos ficar-lhe o direito de estima. A confissão de Soares era um corpo de delicto. O confidente officioso esperava talvez colher os despojos da derrota; mas Adelaide, tão depressa ouvio a delação, como desprezou o delator.

O incidente não passou d’isto.

Quando Soares voltou á casa do tio, a moça achou-se em dolorosa situação; era obrigada a conviver com um homem ao qual nem podia dar apreço. Pela sua parte, o rapaz também se achava