Página:Contos fluminenses.djvu/83

Wikisource, a biblioteca livre

Mas quem póde ter mão ao coração? A prima de Luiz Soares sentio que pouco a pouco lhe ia renascendo o antigo affecto. Procurou combatêl-o sinceramente; mas não se impede o crescimento de uma planta senão arrancando-lhe as raizes. As raizes existião ainda. Apezar dos esforços da moça o amor veio pouco a pouco invadindo o lugar do odio, e se até então o supplicio era grande, agora era enorme. Travára-se uma luta entre o orgulho e o amor. A moça soffreu consigo; não articulou uma palavra.

Luiz Soares reparava que quando os seus dedos tocavão os da prima, esta experimentava uma grande emoção: corava e empallidecia. Era um grande navegador aquelle rapaz nos mares do amor: conhecia-lhe a calma e a tempestade. Convenceu-se de que a prima o amava outra vez. A descoberta não o alegrou; pelo contrario, foi-lhe motivo de grande irritação. Receiava que o tio, descobrindo o sentimento da sobrinha, propuzesse o casamento ao rapaz; e recusal-o não seria comprometter no futuro a esperada herança? A herança sem o casamento era o ideal do moço. Dar-me asas, pensava elle, atando-me os pés, é o mesmo que condemnar-me á prisão. É o destino do papagaio domestico; não aspiro a têl-o."

Realisárão-se as previsões do rapaz. O major des-