Página:Contos para a infancia.djvu/133

Wikisource, a biblioteca livre
Saltar para a navegação Saltar para a pesquisa
A RAPARIGUINHA E OS PHOSPHOROS


Que frio! a neve cahia, e a noite aproximava-se; era o ultimo de dezembro, vespera de Anno Bom. No meio d'este frio e d'esta escuridão passou na rua uma desgracada pequerrucha, com a cabeça descoberta e os pés descalços. É verdade que trazia sapatos ao sair de casa, mas tinham-lhe servido pouco tempo: eram uns grandes sapatos, que sua mãe já tinha usado, tão grandes, que a pequenita perdeu-os ao atravessar a rua a correr, entre duas carruagens. Um dos sapatos perdeu-o realmente; quanto ao outro fugiu-lhe com elle um garotito, com a intenção de fazer d'elle um terço para o seu primeiro filho.

A pequenita caminhava com os pésinhos nús, arroxeados pelo frio; tinha no seu velho avental uma grande quantidade de phosphoros, e levava na mão um masso d'elles. O dia correra-lhe mal; não tinha havido compradores, e por isso não apurára cinco réis.

Pobre pequerrucha! que frio e que fome! Os flocos de neve caiam-lhe nos longor cabellos loiros, adoravelmente annelados em volta do pescoço;