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CONTOS PARA A INFANCIA
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sericordioso. Compadece-te de mim, e dize-me onde está o meu filho.»

— Eu não o conheço, e tu és cega, disse a velha. Ha aqui muitas plantas e muitas arvores, que murcharam esta noite: a Morte não tarda ahi para as tirar da estufa. Deves saber, que toda a creatura humana tem n'este sitio uma arvore ou uma flor, que representam a sua vida e que morrem com ella. Parecem plantas como quaesquer outras, mas tocando-lhes, sente-se bater um coração. Guia-te por isto, e talvez reconheças as pulsações do coração de teu filho. E que davas tu por eu te ensinar o que tens ainda de fazer?»

— Já não tenho nada que te dar, disse a pobre mãe. Mas irei até ao fim do mundo buscar o que tu quizeres. — «Fóra d'aqui não preciso de nada, respondeu a velha. Dá-me os teus longos cabellos negros; tu sabes que são bellos, e agradam-me. Trocal-os-hei pelos meus cabellos brancos.» — Não pedes mais nada do que isso? disse a mãe. Ahi os tens, dou-t'os de boa vontade.»

E arrancou os seus magnificos cabellos, que tinham sido outr'ora o seu orgulho de rapariga, recebendo em troca os cabellos curtos e inteiramente brancos da velha.

Esta levou-a pela mão á grande estufa, onde crescia exhuberantemente uma vegetação maravilhosa.

Viam-se debaixo de campanulas de cristal jacinthos mimosissimos ao lado de peonias inchadas e ordinarias. Havia tambem plantas aquaticas, umas cheias de seiva, outras meio murchas, e em cujas raizes se ennovelavam cobras asquerosas.