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MARQUES DE CARVALHO

Afigura-te ao espirito, meu amigo, a mulher mais bellamente divina e mais divinamente fascinadora que possa existir: alta, esbelta, de corpo dotado de umas adoraveis redondezas triumphantes; cutis morena, avelludada; olhos negros e brilhantíssimos, — como duas caçoilas de mysteriosos philtros embriagadores; — cabellos muito pretos e ondeados, rescendentes a bôa olencia de selvática baunilha; um donaire, uma soberania inteira de magestoso porte e fidalga apresentação captivante, capaz de enleiar-nos em toda a série de crimes que ao humano pensamento é dado formular em dias de tôrvas reflexões e sinistras ebriedades peccaminosas: uma revelação pasmosa, um exemplar perfeitíssimo da mulher-unica, da mulher-incomparavel, o archétypo da elevação dos dotes, a civilisada manifestação das nossas lendárias yáras amazonicas! E, a par de tudo isso, um espirito cultivado, uma illustração perfeita de erudita, conversas seductoras borbulhando entre uns dentes alvíssimos, pequeninos e eguaes, feitos de puro marfim, d’uma alvura de leite, engastados em formoso coral, brilhante como os róseos labios humidos da microscópica boquinha sombreada d’um leve buço, — o complemento da seducção, o requinte da tentadora volupia d’aquelle delicioso ser. Imaginaste? Pois bem; assim era a Marócas, a esposa do altivo general Bandeira,