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CONTOS PARAENSES
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por um capricho desarrazoado da formosa mulher do general. Elle tivera o arrojo de negar-se, — pela primeira vez, é certo, — a satisfazel-o, e a Marócas soffrera em cheio no coração a dureza da áspera repulsa. Longos fios d’interminaveis lágrymas deslisaram-se-lhe dos grandes olhos tentadoramente languidos, pisando-os com força, circulando-os das roxas manchas tristonhas que têm os infelizes habituados ao pranto.

Mas esta manifestação de fraqueza apenas algumas horas durou, — emquanto o velho general, encerrado no seu quarto particular, trilhava a passos desmarcados o soalho, já meio arrependido da quasi brutal violencia com que resistira ao serpentino ataque fascinador da idolatrada esposa.

Depois veiu a reacção, em seguida á crise hysterica dos abundantes prantos silenciosos. Uns assomos de magestosa indignação, muito concentrada e muda, chegaram-lhe por fim, segredando-lhe mentalmente duros meios de infligir ao marido memoraveis ensinamentos de justas represalias.

E a Marócas prometteu elevar-se acima de si propria, ser tão rispida como brutal havia sido o incivil do general.

Ai, meu caro amigo! Foi severa a licção! O pobre general Bandeira mais d’uma vez sentiu-a espicaçando-o, quando o despeito da Marócas, ao fim da primeira semana, obrigava-o ainda a passar as noites sosinho