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MARQUES DE CARVALHO

de levar comsigo a pequena Isaura, a sua querida filha, a mulatinha amimada, cria de casa, prenda favorita de todas as pessoas d’aquella abastada familia actualmente em vesperas de viagem.

E ella, a mãe extremosa, que só vivia do tenro affecto suavíssimo da filha, na tenebrosa passividade do seu captiveiro, — não obstante a bondade com que era tratada por todos, — teria de ficar no Pará, separada do pequenino ente que deslaçava-lhe o espirito em fulgidas chiméras de loiras phantasias, em meio ao triste vegetar da sua existencia!

Uma dôr profunda empolgou-lhe tyrannamente a alma e seus olhos, outrora privados de lágrymas sob o látego inclemente do seu primeiro senhor, antes de ser vendida ao velho Pereira de Castro, verteram largo pranto silencioso por toda a noite passada em claro após a declaração ouvida pela manhã.

Só a lembrança de tão rude separação fazia-a soffrer tanto; o que não seria a crua realidade?

Mas o commendador, ao vel-a concentrada e soluçando a furto, no dia seguinte, — com os olhos, mudamente cheios de quérulas expressões, fitos na rapariguinha, — acercou-se-lhe paternal e, com a voz molhada de benevolencias, consolou-a a meio.

— Que se não affligisse, ponderou. A pequena voltaria com elle e com a familia,