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MARQUES DE CARVALHO

Josepha, a escrava, transportada ao cumulo das grandes e mudas afflicções, não pareceu viver desde a partida da filha. Viam-n’a as outras escravas atravessar calada os aposentos desertos, alheiada de tudo, olhando em frente, como se divisando estivesse nos curtos longes do horisonte limitado uma visão, só para ella creada, a attrair-lhe poderosamente o olhar, a absorver-lhe todas as forças vivas do espirito e da razão.

Mas um dia, trez annos depois, o socio do commendador mandou chamal-a ás pressas. Acudiu indifferente, sem mau modo nem solicitude na expressão do rosto, como quem está acostumado a pensar e agir por vontade de outrem.

O socio e procurador do velho Castro entregou-lhe, a sorrir, uma carta. Bateu desusadamente o coração da preta. Aquelle papel não poderia ser senão da sua Isaura: o commendador, de tempos a tempos escrevendo ao socio, pedia-lhe sempre informasse á Josepha estar a filha d’esta com saude, muito desenvolvida e bastante adeantada nos estudos. Segurou a carta a tremer, e ficou-se a olhar longamente aquelle homem, que sorria-lhe docemente, compadecidamente.

— Anda, vae, disse elle; é uma carta de tua filha.... escripta por ella propria.

Escorreram lágrymas jubilosas dos olhos da escrava. Uma alegria sem fim dava-lhe