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MARQUES DE CARVALHO

para o marido. O Pedro de Andrade, esposo da d. Estephania, era outro: passava a vida pelas casas de jogo, embriagava-se e, ao chegar ao domicilio, esbordoava a mulher que era mesmo uma dôr de coração! Mas com ella assim não succedia, graças a Deus! O Roberto era pontual como um cobrador á hora de recolher ao lar: ás 5 da tarde mandava fechar o armazem, tomava o bond e vinha logo para junto d’ella, de onde não se arredava senão ao outro dia pela manhã, afim de ir novamente para o trabalho. Havia de continuar sempre assim tal norma de vida: ella conhecia de mais o genio do marido para receiar qualquer mudança futura. Agora, principalmente, ia o Roberto ficar preso pelos beiços, com a importante noticia que ella tinha para lhe dar. Era verdade! fazia-se necessario contar-lhe tudo... Porém como? A vergonha apertava-lhe a garganta assim que ella abria a bocca para falar... Mas hoje diria, estava resolvida! Quando? agora? — Agora não; deixal-o com a leitura, que está tão entretido.... Mais logo, quando se fossem deitar. Oh! como ficaria satisfeito o Roberto! Que prazer para elle!... para elle, que era tão lindo, tão bom, tão amado!....

Tudo isto pensava ella, continuando a fitar o esposo n’um enlevo apaixonado.