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III

 

De tempos a tempos, desviando a vista do livro para sacudir a cinza do charuto, Roberto fitava a mulher, sorrindo bondosamente. Surprehendida, a Candida pendia para o peito a formosa cabeça, disfarçava fingindo ler n’um livro que estava sobre a mesa. Em seguida, quando calculava que o marido continuava na leitura, tornava a pregar no rosto d’elle o seu ardente olhar, como se desejasse cobril-o com toda a vehemencia da paixão.

Ouvindo soarem no sino de Sant’Anna as 10 horas, Roberto fechou o livro.

— Vamos dormir? — propoz.

Candida estremeceu e levantou-se.

O moleque veiu fechar as portas e janellas e apagar o gaz.

No entanto, haviam os dois penetrado na pequena alcôva. Em cima do velador, uma véla côr de rosa ardia n’um castiçalzinho de porcellana de Sévres com pinturas allegoricas de Amores alados e Chiméras volitantes. No centro, uma causeuse de setim azul estava cheia de laços, corpinhos de renda, brochuras esparralhadas, n’um abandono adoravelmente dissymétrico. Vidros de perfumarias com rôlhas de crystal