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MARQUES DE CARVALHO

atravez o crystal do monóculo petulante.

— Porque — ?, respondeu ella, com uma curta gargalhada de chasco, a fital-o bem na menina dos olhos, falando-lhe por cima do hombro esquerdo, polvilhado de rescendente velutina; porque.... a vida é uma boa mestra, doutor, e eu tenho recebido d’ella bem duros, bem crueis exemplos!

— Apezar de ser tão nova assim?

— A vida não escolhe discipulos entre aquelles que apresentam a cabeça encanecida. Bem ao contrario, parece que aos moços dá, por vezes, preferencia, como compensando-os de não terem o discernimento preciso para bem conhecer e evitar os revezes da sorte.

— Mas — é maravilhoso tudo quanto estão a dizer-me os seus divinos labios com a musica angelical da sua voz, minha adoravel senhora! Se já não sentisse por sua pessôa — e pelo seu espirito — este indomavel affecto de que falei-lhe ha pouco, penso que deveria experimental-o agora — e bem profundamente! — depois de ouvir-lhe tão razoaveis e inesperados conceitos.

— Devéras?

— Por certo.

— Oh! é muito amavel....

— Digo a verdade.

— E, todavia, continuo a descrêr...

— Faz muito mal!

— Porquê?