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CONTOS PARAENSES
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— Ah! já faz perguntas? — Porque quem confessa descrença em similhante assumpto, deseja crêr, ou, pelo menos, não quer descrêr...

— O que redunda no mesmo. Errou, porém, estabelecendo até mim a regra geral, doutor. Difficilmente se engana a mulheres como eu, convença-se. O mundo tem sido para mim uma grande eschola, sr. dr. Machado. Lições bem rispidas tenho recebido n’elle, para agora, sem discrepancia das suas opiniões, fazer que o sr. acredite nas suas proprias illusões phantasiosas. Pois que! Persuade-se acaso de que jámais poderei tomar ao sério as banalidades da confissão que me cantou ha instantes o seu lyrismo? Estará o sr., effectivamente, tão enamorado de si mesmo, que se julgue irresistivel, fatal? Vaidade sem razão, doutor!

— Como é cruel, minha senhora!

— Não sou cruel, não, cavalheiro: sou justa apenas. E porque sympathisei inexplicavelmente com o sr., é que desejo trabalhar para extorquir-lhe do espirito esse orgulho desarrazoado que lhe embota o sentimento. — Permitte-me a liberdade d’uma franqueza?

— Ora essa! Porque não?...

— Muito bem: pretendo matar-lhe n’alma o seu illimitado.... pedantismo.

— Como diz?

— Ouça bem: o — seu — illimitado — pedantismo.