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MARQUES DE CARVALHO

— E.... mas....

— Olhe, sente-se aqui, a meu lado — Assim. Conversaremos com tranquillidade, emquanto essa quadrilha d’Offenback absorve todas as attenções da sala. Escute-me.

Eu era menina, dez annos apenas, uma simples creança insignificante. Seriam nove noras da noite. A chuva caía sem parar desde que anoitecêra; uma triste chuva hibernal, que dava arripios intercadentes, sob a luz oscillante do gaz. Estavamos ao serão, reunidos na varanda, umas dez pessoas: eu, minhas duas irmãs, algumas escravas, e uma preta velha, muito velha e alquebrada, que o trafico da escravatura arrancara aos sertões africanos para transplantar no Brazil.

Costuravam umas, outras faziam rendas. Eu e minhas duas irmãs brincavamos a vassourinha, formando circulo sobre a mesa, em torno da qual trabalhavam as escravas.

De repente, um silencio operou-se na varanda inteira e nós interrompemos o brinquedo, ao tempo que as raparigas erguiam as cabeças, detinham no ar a mão que empunhava a agulha, ou descançavam