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MARQUES DE CARVALHO

turbidas aguas aos pés de Belém, uma roça havia, n’aquelle tempo, — em 1835, — que era o abrigo d’uma simples familia de modestos caboclos agricultores: pae, mãe e um filho, rapaz esbelto, no pleno vigor d’uns 20 annos sadíos e bem desenvolvidos.

Viviam todos na mais lata felicidade que poderiam almejar em sua simplicidade mediocre de lavradores remediados. A farinha da sua roça era a mais afamada na praça de Belém e a seriedade com que tratavam negocios tinha-lhes aberto largo crédito em casa do seu correspondente na cidade.

O rapaz, Aniceto, andava de casamento justo com a Thomazia, uma rapariga da margem opposta do rio, moradora n’um sitio quasi fronteiro á roça. Pelo São João deveriam vir á capital da provincia, effectivar perante um padre a mais persistente aspiração que em peitos amazonicos jámais palpitou e que dava-lhes, na sua só lembrança, uma como ebriedade olympica de soberanas venturas transcendentes.

Uma vez por semana, aos sabbados, a pequena montaria do joven caboclo rasgava, cheia de vigor, o claro seio do rio e transportava-o rejubilado á pequenina casa da venturosa amante sitibunda de mirar-lhe as suaves transparencias do olhar e ouvir-lhe a incomparavel meiguice das longas falas singellas e apaixonadas.