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MARQUES DE CARVALHO

urubús recortavam-se muito negros, muito pacificos e espalmados, nos seus vôos arredondados, pairando como n’uma contemplação enamorada da terra que os sustenta com suas putrefacções, com seus resíduos infames e nojentos.

De repente, o meu companheiro disse-me:

— Sentemo’-nos aqui. O sr. ja deve estar cançado d’esta longa caminhada.

Não tinha a minima accentuação estrangeira; fallava como um verdadeiro paraense.

Alongara-se por cima de uma camada de capim verde pouco espessa, de bruços, com o pescoço estendido e o grande chapéu de palha do Chile a descer-lhe para a nuca. Imitei-lhe o gesto, defronte d’elle.

Ficamos calados por alguns minutos.

Elle fitava o solo, com as narinas palpitantes, como sorvendo em longos haustos sensuaes aquelle bom cheiro acre e sylvestre que a terra exhalava.

Perguntei-lhe de repente, não achando outra coisa a dizer-lhe:

— O sr. é casado?

Fitou-me bem na menina dos olhos, com uma expressão investigadora de quem deseja conhecer o fundo do pensamento de seu interlocutor. Depois respondeu:

— Não... Fui... Agora estou novamente solteiro: sou viuvo.

— Ah!

— É verdade. Sou viuvo e tenho-me dado