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CONTOS PARAENSES
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muito bem n’este novo estado de quem vive sem as preoccupações do homem casado, que tem uma familia a sustentar. Bem tolo é quem se casa...

Calou-se, a mirar-se outra vez nos meus olhos.

Um pequeno sorriso enigmatico frisava-lhe o labio superior, traçando nas duas faces profundas rugas obliquas que, nascendo das azas do nariz, partiam a perder-se nos longos fios grisalhos da parte inferior das suissas.

Eu não comprehendia bem o que diziam aquellas palavras, assim sublinhadas por similhante sorriso.

Elle pareceu-me haver adivinhado a minha duvida, porque disse, apertando-me as costas da mão direita, como para chamar para si toda a minha attenção:

— Está curioso, não? Quer talvez saber quem seja esta velha ave de arribação que vive no seu paiz e que tanta alegria traz sempre no coração, no rosto, — nos labios e no olhar? É uma historia muito longa a minha, meu caro senhor. Sou muito franco: deseja ouvil-a? Não perderá nada com isso; pelo contrario, creio aproveitará alguma coisa com a moral que tirar das minhas palavras, depois de me dar toda a razão nos actos que pratiquei. Logo que me ouvir, o sr. verificará que é muito certo o rifão: Tristezas não pagam dividas, e adquirirá a certeza de que, n’este mundo, o