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MARQUES DE CARVALHO

feita sem socio, para não mais ser prejudicado por ninguem.

"Quiz a sorte que eu me apaixonasse por uma formosa rapariga paraense, — farta carnação morenamente excitante e grandes quadris arredondados, divinos, — filha de um subdelegado de policia. Casei-me com ella alguns mezes depois de a ver. Não tinha educação, era estupida, mas possuía a convicção da belleza nas fórmas, a imponencia da sensualidade no olhar, e eu amava-a! Que me importava o resto?

"Dois annos vivi eu nos braços de uma felicidade illimitada. Luiza, a minha captivante mulher adorada, de dia para dia ganhava um palmo em minha infinita affeição serôdia, e cada vez mais revelava-me um esplendido segredo de sua magnifica belleza de crioula! Era um delirio, uma loucura dulcíssima e purificadora, aquelle amor que eu lhe votava com toda a vibrante virilidade do meu corpo e da minha alma! A pequenina casa em que viviamos era para mim uma Capua desejada, onde a minha languidez encontrava tranquillo bem estar, nos braços da seductora Luiza. O dia seguinte, que para muitos é um enigma atterrador, apresentava-se-me franca e gostosamente como a fiel reproducção inalteravel da vespera e do dia presente. Horas suavíssimas de um amor intenso e bom, como fostes amadas pela piéguice da ingenuidade do meu espirito!"