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MARQUES DE CARVALHO

para a primeira excursão, — ao Alemtejo, — estava elle arrumando umas roupas, quando, introduzindo a mão no bolso d’um paletot que só vestia em viagem, encontraram seus dedos um objecto qualquer. Tirou-o para a claridade e viu uma carta toda amarrotada e suja. Reconheceu-a logo: era a carta que lhe déra a sra. d. Joaquina.

— Ah! que esquecimento o meu! — exclamou. — Que juizo não terá feito a meu respeito a impagavel senhora....

E, cheio de curiosidade, rasgou o sobrescripto.

"Meu bom amigo, — leu. — Devo dizer-lhe uma coisa, que ha muito afflue-me aos labios, sem todavia sentir-me com animo de fazel-o: amo-o, amo-o, com todo o ardor de que é capaz o meu ardente coração! (Isto copiou ella do romance A Caridade Christã, de Escrich, — pensou Raul). Peço-lhe que escreva-me logo, dizendo-me se fui por si acolhido o meu amor. (Aquelle fui é que era genuinamente d’ella, só d’ella; o Raul bem o conheceu). Espero ancioza a sua resposta, com a qual o meu amigo remeter-me-á meia duzia d’AGUA CIRCASSIANA, para eu dar de presente a uma conhecida minha. Disponha sempre do coração de sua eternamente, — JOAQUINA."

 

Raul casquinou uma sonora gargalhada terminando a leitura d’aquelle modelo d’orthographia,