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MARQUES DE CARVALHO

De repente, n’um silencio entre duas pontas de dialogo, uma voz ergueu-se da rua, fazendo-se acompanhar por uma guitarra:

Folguem todos n’esta noite,
Venha a festa sem egual:
— Hoje em nada se repara,
Porque é noite de Natal.
Hoje em nada se repara,
Porque é noite de Natal.

E a guitarra chorava em tom menor, fazendo côro ao ritornello. A voz de um agradavel tenor prendeu logo a attenção dos que estavam na sala:

Esta noite abençoada
Pertence aos que têm amor;
No presepe bethlemita
Veiu ao mundo o Deus-Senhor.

Novo ritornello choroso na guitarra.

Por isso, moços e moças,
Entregae-vos ao prazer,
Emquanto não vem a edade
Vossa fronte encanecer!

Terceira e ultima plangencia melancholica desferida na guitarra.

Aos derradeiros versos, o velho Antonio levantára a cabeça, n’uma energia de movimento,