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CONTOS PARAENSES
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com as narinas afflantes, os anneis da cabeça tremendo-lhe sobre os hombros.

— Tôlo! — exclamou, referindo-se ao cantor, cuja voz perdia-se agora ao longe, na extremidade da rua. — Pois que venha cá, a ver se os velhos não têm amores e prazeres!.. Que venha presenciar a este quadro e me dirá ao depois se eu não amo as minhas queridas filhas, o meu bondoso Braga, o meu Theodoro e á innocentinha que ahi dorme sob as bençãos do meu olhar!..

Um soluço gemeu-lhe no peito: Dhalia ergueu-se, radiante como a encarnação do carinho e, muito piedosa e pura, — qual um raio de sol illuminando a face de uma estatua antiga, — foi beijar amoravelmente a fronte do ancião....

Que não se affligisse, pediu-lhe affagando-o; — que não désse importancia a similhantes asneiras. Todos sabiam perfeitamente com que intensidade elle amava a familia, e que suaves prazeres tirava d’esse amor. E demais, aquella noite era de festa, como dissera o desconhecido cantor, não valia a pena entristecer-se....

— Para o lado os pezares! — terminou sorrindo. — Como distracção agradavel a todos, vou tocar ao piano a Serenata de Schubert.

Já se tinha João levantado, prevendo