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MARQUES DE CARVALHO

Elle era um velho quarentão, amanuense de secretaría, obeso, rubicundo, de rosto espalmado e barbas hirsutas e grisalhas. A mocidade que tivéra, — tempestuosa e poída nas orgias, — encanecera-lhe completamente os cabellos da cabeça, os quaes desciam para o rosto, onde cruzavam-se numerosas rugas sobre a pelle côr de ginja.

Ella tinha dezoito primavéras, — para me servir d’uma velha expressão do romantismo; — ostentava uma carinha faceira, risonha, d’olhos pretos e marotos. Têz morena e avelludada. Um sorriso excitantemente encantador descerrava-lhe os labios vermelhos, mostrando duas filas de dentes mais alvos do que os de um cão da Terra-Nova. O corpo, flexivel como a haste da angélica, era agil e dotado de seductores meneios, que impressionavam bem profundamente a mais de meia-duzia de gamenhos vadíos, — d’esses namoradores enfatuados que abundam por toda a parte.

O seu regimen de vida era, invariavelmente, este: de manhã, ás 8 horas, depois do respectivo e parco almoço, o sr. Bonifacio escovava com a manga da sobrecasaca o solenne chapéu alto, dava um chôcho á mulher e saía para a repartição com o passo do empregado publico: — impassivel e cadenciado.

Elvira acompanhava o esposo até á porta da rua, fazia-lhe uma pequena caricia e