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CONTOS PARAENSES
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andar assustadiço e saudando um ou outro conhecido com um meneio de cabeça. Mais adeante, n’um canto escuro, uma roliça mulata, com o vestido muito decotado, murmurava amabilidades a um preto de physionomia horrenda empertigado n’um fato novo e com a cabeça coberta por um descommunal chapéu alto. Como contraste, não muito longe, estava uma senhora pobremente trajada, com os cotovellos pousados á grade ferrugenta d’uma sepultura mal allumiada por duas vélas em castiçaes de vidro.

Dos olhos d’ella, que estavam fixos em uma corôa de perpetuas rôxas, corriam lágrymas, que das faces resvalavam-lhe para as delgadas folhas do capim que vegetava entre as junturas dos azulejos desbotados....

Era sem duvida alguma viuva que pagava á memoria do finado marido alguns annos de amorosa e suavíssima coabitação na terra...

Á esquerda, contemplando uma photographia em miniatura encerrada em negro caixilho e suspensa ao centro da cruz d’uma sepultura pequenina e toda coberta de jasmins, trevos, japanas e madre-silvas, via-se uma senhora de cabellos grisalhos, immovel, calada — como evocando passadas scenas de prazer — sem ouvir as plangencias da orchestra, que proseguia no funeral tristonho....