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CONTOS PARAENSES
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como alegrias fugitivas ou prazeres expulsos, erguiam-se n’uns grandes rendilhados phantasticos de miragens variadas.

A lua appareceu, como uma saudade enorme e cruciante, n’uma serena magestade tumular, que impoz vago soffrimento ao coração de todos. Os brandões e vélas perderam o brilho, ficaram como pyrilampos lantejoulando os sepulchros sob o luar diaphano, a cuja claridade continuava o pregador a recordar a omnipotencia de Deus.

Os bonds estacionados na praça encheram-se de passageiros. Minutos depois seguiam pela estrada da Independencia, replectos de homens, de senhoras tristes, com physionomias de soffrimento.

Chegando ao largo de Nazareth, apearam-se muitos homens. O largo estava illuminado festivamente, cheio de adornos alegres. Era aquella noite a penultima da festa annual.

Então, os mesmos homens que estavam rendendo ha poucos minutos uma saudade á memoria de um amigo, d’um irmão, d’um pae, desciam agora ao centro da festa popular, procuravam as conversas ruidosas, invadiam as casas de jogo, — propellidos pela fascinação demoniaca e terrivel da roleta!