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CONTOS PARAENSES
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de ineffavel bem-estar ao verem-se n’aquelle magestoso socego, sobre o Tocantins, dentro da embarcação. Felicitavam-se mutuamente, — com o olhar cheio de caricias, — por haverem podido esquivar-se á vida agitada que levavam em Belém, sempre rodeados de visitas, cujas conversações banaes, nullas, pouco interesse lhes davam. Mas agora, — como iriam viver felizes durante aquella quinzena de fuga, em a tranquillidade bucolica da roça, sosinhos, passeiando sem companheiros importunos, ao longo do rio, tirando caranguejos da lama, lavando reciprocamente as mãos na agua azulada e murmurosa dos igarapés!.... E que festas fariam á hora do jantar, comendo peixinhos pescados por Luiza, e pacas, roliças de gordas, caçadas pelo Antonio nas mattas do sitio?!....

Suggeridas pelo sopro de socego que parecia rodeal-os no meio do rio, estas idéas levaram-n’os a conversar animadamente, risonhamente, sem attenderem a que o sol não mais vibrava os lategos luminosos no dorso da corrente, e que, portanto, poderiam sair para o centro da canôa, afim de gozarem da viração fresca e cheirosa que agitava n’um movimento descompassado as velas mal colhidas ao mastro.

Sempre assentado á prôa, fumando sempre no cachimbo de longo taquary, o caboclo