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MARQUES DE CARVALHO

olhava agora para o poente, como confidenciando mentalmente com o sol, que deixára um rastro avermelhado no céo, onde agrupavam-se em desordem nuvemzinhas côr de nácar, violetas, azuladas, plumbeas, côr de perola. Do lado opposto, levantava-se a noite, n’um andar manso, mathematico, extinguindo a pouco e pouco o crepusculo bruxoleante.

O gorgeio dos passaros cessára na ilha das Onças, que já tinha ficado atraz, a longa distancia; só chegavam á canôa os compassos em andante do canto de um carachué que saudava a noite d’uma pequena ilha, rente á qual passou a embarcação.

— Vê ahi no meu relogio que horas são, José, ordenou Antonio ao caboclo.

— Seis e trinta e oito, sinhor.

— Oh! então saiámos d’aqui, filha, vamos tomar fresco.

Vieram para fóra.

Luiza soltou uma exclamaçãosinha, sonora como um soneto de Paulino de Brito, engraçada como uma satyra de Julio Cezar, com a sua voz d’um timbre argentino como um filete de agua morna caindo n’uma banheira d’oiro lavrado:

— Ah! — fez ella.

E deixou-se ficar de pé, encostada ao hombro do marido, extasiada, em frente ao pittoresco panorama que apresentava-se-lhe aos olhos.

Largo em aquelle sitio, achamalotado