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MARQUES DE CARVALHO

e longamente, com essa persistencia abstracta dos verdadeiros extases apaixonados....

O poeta conheceu não ser indifferente áquella moça tão pállida, tão triste, cujo olhar tinha os fluidos voluptuosos das paixões ardentíssimas...

E, não sei bem porque, fugiu-lhe: passou um mez sem ir á casa da prima da Bidinha, para não vel-a. Depois, de si proprio envergonhado, lá foi e encontrou-a, mais pallida ainda.... e com os olhos, — aquelles tentadores, faiscantes olhos eloquentes, — mais, muito mais bonitos... Teve pena d’ella: n’um momento em que ficaram sós na sala, — onde rescendia o perfume d’um ramo de resêda posto n’um jarro em frente ao retrato d’uma velha senhora de fronte enrugada e olhar suave — declarou-lhe amal-a desde muito, intensamente.

Ella, a Bidinha, a pállida donna do álbum que recebêra aquelles ternissimos versos, d’uma inspiração idéal e faceira, sorriu, estremeceu e murmurou apenas quasi inintelligivel som.

D’ahi em deante, a felicidade uniu-os sempre em amorosos colloquios nocturnos, em aquella mesma sala.

Tempos depois, teve o poeta de fazer uma viagem. Os protestos de mutua fidelidade