Página:Cronicas-de-um-Tetranacional-do-Software-Livre.pdf/10

Wikisource, a biblioteca livre

to fundamental nessa guerra pelo poder no futuro da humanidade. Quero crer que essa honra vem daí.

O tema é desafiador, grave e espinhoso, por tratar de questões éticas em tempos de um relativismo moral desbragado e quase ubíquo. Ao tentarmos comunicar posições sobre o tema, o potencial para dissonâncias cognitivas se torna inafastável: pois, afinal, o que vem a ser ética, e moral? E como se relacionam esses conceitos? Em “Síndrome...”, entendo que se relacionem através dos processos em que acolhemos e comparamos valores morais (sobre certo/errado ou bom/mau). Como emitimos (sobre outros ou sobre nós mesmos) e acatamos juízos de valor, e como agimos ante ou sob esses julgamentos.

Num dos trabalhos da série pós-Snowden (“Ética, Privacidade e Biometria em tempos de drones”, palestra proferida em agosto de 2013), proponho, baseado em meu entedimento do filósofo e sociólogo contemporâneo Jürgen Habermas, que 'ética' seja entendida como moral pretensamente transitiva, ou seja, a aplicação, por indivíduos, de seus princípios e valores morais a práticas ou situações sociais. Donde a dissonância, em contextos de relativismo universal. Onde o princípio da coerência, como métrica para o entendimento, tem que passar então por grosseiras peneiras tecidas de subjetivismo.

Como exemplo dessas peneiras, tomemos o meme, propagado por ideologias utilitaristas, que nos induz a menosprezarmos consequências nefastas do regime de vigilantismo global operado na ou para a ciberguerra. Em várias crônicas, Anahuac tenta desarmá-lo neurolinguisticamente, batizando os serviços digitais gratuitos que o alimentam de “redes sociais devassas.” Mas, em certo ponto, reconhece a dificuldade: “A maioria dos usuários desses serviços devassos pouco se importa com a privacidade de seus dados. A premissa é 'não tenho nada a esconder, então qual é o problema que me monitorem?' Se houvesse uma forma simples de explicar o quanto isso está errado, eu o faria”.

Nada a esconder?