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nacional era extremamente instável, ele toma a decisão de refugiar sua família em Cuba. Esposa e quatro filhos, sendo duas meninas e dois meninos. Mas ele fica.

Fica, enfrenta, foge, é capturado, preso, torturado e expulso, exilado. Ele e sua família não seriam mais bem-vindos no Brasil por 14 anos. Por consequência, eu também não.

Em Cuba, Anatólio Bueno de Paula Crêspo, o mais velho dos meninos, cresceu e se casou com Jennie Gil Moreno. Ele, um orgulhoso nordestino, que, por si só, já enfrentava o exílio. Ela, a princesinha da escola nacional de Havana. Mas não era cubana. Era mexicana. Índia. Azteca.

Ao completar a maior idade plena, convence a todos da família, mãe, um irmão e uma das duas irmãs, que era hora de tomar o caminho de volta “para casa”. Partem em um navio comercial rumo ao Chile, onde se encontrava a nata intelectual e de ação da resistência brasileira de oposição ao governo ditatorial brasileiro. Lá estavam o então esquerdista Fernando Henrique Cardoso e Dona Ruth, Betinho, Henfil, e muitos outros.

O clima no Chile era perfeito para a social-democracia. O então Presidente Constitucional do Chile, Salvador Allende, abria os espaços para todos os refugiados políticos do continente. Santiago efervescia em consciência socialista. Aí nasço eu, em 12 de setembro de 1972.

Primeiro filho de Dona Jennie. Filho de estudantes universitários que buscavam meios para sobreviver. Vendedores de livros e pais esforçados.

O ano de 1973 transcorria aparentemente normal, com as forças políticas pendendo, como sempre, quando, em 11 de setembro, estoura o golpe militar chileno, com ostensivo apoio norte-americano. Pinochet toma o poder e Allende é covardemente assassinado.

Como diria William Blum: “E foi assim que eles fecharam o país para o Mundo por uma semana, enquanto os tanques rolavam, os soldados arrombavam portas, o som das execuções pipocava dos estádios e os corpos se empilhavam ao longo das

18 | Anahuac de Paula Gil