Página:Curso de litteratura portugueza e brazileira (Sotero dos Reis, 1866, v 1).djvu/60

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Do século XIV, não me chegou às mãos documento algum, por onde possa eu avaliar as modificações por que foi passado o português até o seculo posterior, se bem que existia desse século o Nobiliário³⁰, de D. Pedro Afonso, conde de Barcelos, filho natural do rei D. Dinis, cuja impressão foi feita em 1640.

Do século XV, temos para ajuizar do desenvolvimento da língua três preciosos documentos, o Leal Conselheiro, do rei D. Duarte, a Crônica de Guiné, de Gomes Eanes de Azurara.

Antes, porém, de os apreciar devo referir um fato que muito concorreu para o aperfeiçoamento do Português, dando-lhe carta de alforria na expressão do Visconde Almeida Garrett. Até fins do século XIV, todos os atos e instrumentos públicos eram ainda escritos em Latim. D. João I, o regenerador da monarquia portuguesa, o rei mais popular que teve Portugal, foi o primeiro que ordenou em 1400 que tais atos e instrumentos fossem escritos em vulgar. Esta sábia medida, que tornou o português língua oficial e forense, deu um grande e eficaz impulso ao seu desenvolvimento.

A linguagem do Leal Conselheiro, do rei D. Duarte, que começou a reinar no ano de 1433, já é um português muito mais correto e limado que o do Cancioneiro, do rei D. Dinis, onde ainda se deparam fezes godas e mouriscas; um português, em suma, que já pode ser facilmente entendido pelos portugueses e brasileiros