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ASIA de João de Barros

ou proveito algum, leixáram de a deſcubrir, contentando-ſe com a terra, que ora temos, a qual Deos deo por termo, e habitação dos homens; e ſe alguma houver, onde o Infante diz, devemos crer que elle a leixou pera paſto dos brutos. Cá, ſegundo os antigos eſcrevêram das partes do Mundo, todos affirmão que eſta, per que o Sol anda, a que elles chamam torrida Zona, não he habitada. Ora onde o Infante manda deſcubrir, he já tanto dentro no fervor do Sol, que de brancos que os homens são, ſe lá for algum de nós, ficará, (ſe eſcapar,) tão negro, como são os Guineos vizinhos a eſta quentura. Se ao Infante parece que como ora achou eſtas duas Ilhas, que o tem mais elevado neſte deſcubrimento, póde achar outras terras bermas, groſſas, e fertiles, como dizem que ellas são, terras, e maninhos ha no Reyno pera romper, e aproveitar ſem perigo de mar, nem deſpezas deſordenadas. E mais temos exemplos contrarios a eſta ſua opinião, porque os Reys paſſados deſte Reyno ſempre dos Reynos alheios pera o ſeu trouxeram gente a eſte a fazer novas povoações; e elle quer levar os naturaes Portuguezes a povoar terras hermas per tantos perigos de mar, de fome, e ſede, como vemos que paſſam os que lá vam. Certo que outro exemplo lhe

deo