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DA FRANÇA AO JAPÃO

deiros chefes, e dispõem do corpo e da alma dos convertidos. No Japão, porém, a propaganda se fazia pelo proprio merito das doutrinas do Christianismo, muitas vezes assumpto de longas discussões, ás quaes, como vimos, assistia grande numero de pessoas que só depois de julgarem a superioridado do christianismo sobre as outras seitas de seu paiz, fazião-se catechumenos antes de receberem o baptismo. E para mostrar o criterio com que procedião, será interessante narrarmos como e porque o rei de Boungo se fez christão.

Ainda joven, nasceu-lhe o primeiro sentimento de amor pela nossa religião, quando elle viu alguns portuguezes, desembarcados em Funay, e hospedados pelo rei sou pae, fazerem diariamente suas orações de joelhos e os olhos voltados para o céu.

Um dia, o joven príncipe disse á um delles: — «É em honra dos nossos Kamis e dos nossos Fotocas que oraes com tanta devoção?» Ao que o negociante respondeu, animado de sincera piedade. « Senhor, não é aos deuses de madeira, de pedra ou metal que eu dirijo as minhas orações: porém a um Soberano creador do céo e da terra; — vossos douses não tem ouvidos para me ouvir nem mãos para fazer o bem; porém Aquelle que adoro enche este grande universo com a sua presença e seus beneficios. Elle vê todas as nossas acções, ouve todas as nossas palavras; é rico e poderoso, e acolhe a todos que o invocão com confiança.»

Estas palavras ditas com simplicidade e enthusiasmo, incutirão no coração do Principe, grande estima para o Deos dos Christãos; e apenas subio ao throno, pela morte de seu pai, começou a estudar as crenças religiosas de seu paiz, abraçando a vida dos Bonzos da seita jenpou, e mandando construir um grande templo pagão em Ousuqui.

Esta seita, é ainda, seguida no Japão pela mór parte dos nobres, e entre os deveres que ella prescreve aos adeptos, o mais penoso é a obrigação de meditar cada dia sobre uma das mil e setecentas considerações que constituem os seus fastos religiosos.