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DA FRANÇA AO JAPÃO
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ostentavão publicamente suas crenças para obterem a palma do martyrio.

A crença da immortalidade era a que mais enthusiasmava o christão japonez, e este povo já bravo, e pouco apreço dando á vida, pela sua educação, considerava como infamia occultarem as opiniões que nutrião sobre qualquer assumpto com receio da força.

Vendo que os christãos persistião, e que indignados protestavão contra esses actos violentos, o Imperador receiou a guerra civil e entendeu que devia empregar todos os meios para combater o christianismo. Assim é que dous fidalgos japonezes, suas mulheres, a mãi de um d'elles, e seus filhos forão executados. Os homens perderão a cabeça e as mulheres e crianças morrerão na cruz.

Uma d'estas heroinas, momentos antes de expirar, animava um seu filho ainda menino que, crucificado em um pequeno madeiro, não desviava os olhos d'aquella que lhe dera á luz e respondia: « Nada receieis, minha boa mãi; eu quero morrer comvosco,» ao que esta banhada em lagrimas exclamava. « Nós vamos para o Céo, lende coragem! Invocaio nome de Jesus e Maria» — e ambos de concerto repetião — «Jesus, Maria!»

Os fastos do Christianismo não apresentão martyres de maior coragem; e hoje, neste tempo em que a descrença corroe muitos corações fracos e pouco preparados, que ostentão principios philosophicos que não comprehendem e exagerão, e que os lanção mesmo, no verdadeiro atheismo; é para admirar que apenas ha tres seculos, o fanatismo desse coragem e firmeza de convicções aquelles que preferião morrer no meio de torturas, do que serem considerados renegados de uma religião que apenas se impunha pela simplicidade de suas verdades, pelos principios liberaes e pela igualdade que estabelecia entre os homens.

É, cheios de consternação, que hoje observamos a corrupção dos costumes, crenças e opiniões; sentimentos que vemos