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DA FRANÇA AO JAPÃO

D’esta ultima parte da viagem, feita a bordo do Tanaïs, só guardaremos lembrança do forte cheiro de alcatrão de que até a sopa se ressentia, e do bello aspecto das costas do Japão, illuminadas durante a noite por numerosos pharóes, o que jà nos mostra o gráo de civilisação d’este povo, que ha poucos annos trucidava os indiscretos viajantes ou interesseiros mercadores que aportavão em seo territorio.

A entrada da bahia Yokohama nada tem de notavel a não ser o aspecto imponente do legendario Fusi-hamá que, como um gigante, se levanta no fundo da bahia, com o seo cimo envolvido na neve o dominando todo territorio japonez.

O Tanaïs chegou a este porto em tres de Outubro pela manhã e apenas aferrou, nos preparamos para descer á terra sem mesmo lembrarmo-nos das formalidades necessarias.

Havia somente alguns minutos que o helice do navio entrava em repouso e entretanto mais de cem pequenas barcas de elevadas prôas rodeavão o vapor, conservando-se a respeitosa distancia, sem duvida esperando a visita dos funccionarios da alfandega e da policia japoneza.

Algum tempo depois, entravão a bordo tres funccionarios japonezes, cujo vestuario e maneiras aguçou seriamente nossa curiosidade. Vestião largas calças e uma mal ageitada jaqueta ou sobrecasaca militar, o que fez-nos perder a esperança de vermos as compridas vestes e os brilhantes sabres de que fallavão todos os vivantes com quem tinhamos conversado. Concluida a visita, o que foi mais uma formalidade do que seria inspecção das cartas do navio, entramos em uma das pequenas barcas, que velozmente nos conduzio á terra.

Verdadeiras canoas governando de voga, como se diz entre nós, ellas deslisão com rapidez sobre as aguas pelo impulso que quatro vigorosos bateleiros, todos de pé, dão aos chatos remos de que fazem uso.

Uma vez em terra cumpria-nos procurar a Egreja e darmos graças ao Altissimo que nos protegeo sobre tantos mares e em tão amargas circumstancias.