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DA FRANÇA AO JAPÃO

Parecem-nos infundadas as opiniões de muitos dos nossos compatriotas que não confião nas vantagens da introducção dos coolies no Imperio, entretanto, se elles visitassem a parte septentrional da China, especialmente Shangai e suas immediações, não encontrarião nenhuma semelhança nem nos typos, nem nas qualidades, que fazem os homens aptos para o trabalho, entre os habitantes indigenas destas regiões e os malayos que vagão pelas ruas da capital do Imperio e que, pelos seus vicios, só servem para activar a vigilancia da nossa policia.

Os chins ou malayos que aportarão á nossas plagas como emigrantes, soubemos terem sido recrutados nas praias de Macau ou nas costas da China, proximas de Hong-Kong.

Nenhuma vantagem se lhes offerecia; a troco de algumas piastras que se lhes dava, embarcavão sem saberem para onde ião, erão mendigantes, muitos, cobertos de lepra e immundos, que a fome e a miseria os obrigavão irreflectidamente, a dar esse passo. E estes homens invalidados pelas doenças, eivados dos mais degradantes vicios, não podião satisfazer aos desejos do governo do Brazil quando autorisou esta emigração.

Alguns dias depois de nossa chegada ao Japão alguns jornaes do paiz noticiárão, que fôra retido no porto de Nangasaki um navio brasileiro que transportava mais de dous mil coolies, contra a vontade destes, que não tinhão assignado contrato algum diante das autoridades chinezas antes de embarcarem.

Immediatamente tratamos de verificar a noticia, e com effeito, o governo japonez mandara desembarcar os coolies, reter o navio até ulterior deliberação e encarcerar o capitão e a tripolação; porém, a sua bandeira era a da Republica do Perú e felizmente neste ponto a noticia era inexata.

Ao principio, pareceu-nos arbitraria e violenta a deliberação do governo do Japão, porém, quem testemunhar a pouca humanidade com que os estrangeiros tratão os chins e os japonezes quando uma vez sujeitos ao direito da força, não deixará de approvar essas medidas necessarias para a honra da civilisação e em bem dos nossos semelhantes.