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DA FRANÇA AO JAPÃO

De todos os lados a mudez do deserto, nem mesmo se vêm as palmeiras que em outros lugares se encontrão, e que fornecem ao viajante sequioso, uma agua limpida e fresca.

N’estas planuras arenosas, o homem concentra todos os seus pensamentos; parece-lhe que a obra da creação não foi completa, que os germens não bastarão para todos os pontos da terra: elle é forçosamente compellido, pelo influxo poderoso da verdade, a admittir um principio creador, absoluto, e que precedeu o Universo, ainda que sua essencia escape a sua analyse.

O que porém, é incontestável, e fica demonstrado pelos trabalhos geologicos e archeologicos effectuados, é que este immenso deserto serviu, nos tempos primitivos, de leito ás aguas do Oceano.

A natureza das grandes bacias que ahi se encontrão, e a existência dos lagos amargos, são provas evidentes d’esta opinião, hoje geralmente acceita. Durante os trabalhos do canal encontrarão-se despojos do Oceano, cuja origem relativamente recente, nos ensina que esta epocha foi contemporânea á da existência do homem.

A unica vegetação que vê-se nas margens do canal, consiste em pequenas tamareiras de quatro a cinco palmos de altura.

Ao anoitecer o Ava acostou a margem do canal e ahi passamos uma pessima noite, perseguidos constantemente pelos mosquitos que necessariamente se reproduzem com extraordinaria facilidade em rasão das aguas estagnadas que se encontra mui proximas a estas margens.

No dia seguinte, as 5 horas da manhã, o Ava continuou viagem, chegando á tarde d’este mesmo dia á Suez.

O panorama de Suez é relativamente grandioso para quem acaba de navegar pelo canal; e o silvo da locomotiva que parte para o Cairo, causa-nos a mesma sensação que experimenta o nosso patriotismo quando acordado por uma boa medida administrativa. É que na aridez da descrença, ha momentos em que confiamos na impetuosidade do progresso, em sua marcha civilisadora, pela communhão de idéas.