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Santo Agostinho

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sócio-político em permanente estado de convulsão, dado vivenciarem exatamente a era derradeira do império romano.

Influências das mais diversas guiaram Agostinho a um movimento pendular, conforme descreve Peterson: passou de uma vida mundana para a monástica, do maniqueísmo ao ceticismo acadêmico, de antigo e notável professor de retórica a escritor e Pai da Igreja cristã latina no ano de 386 (1981, pp. 59-64).

A eloquência do retor Agostinho, como admitiu, há de ser creditada à grande influência nele exercida por Cícero (106 - 43 a.C.):


Entre estes eu, ainda fraco de espírito me instruía em livros de eloqüência, nos quais desejava sobressair-me, com a intenção condenável e vã de saborear a vaidade humana, segundo o uso disposto cheguei de algum modo ao livro de Cícero, cuja linguagem digna de admiração transporta à sede do coração e da alma. Todavia, aquele livro chamado Hortênsio continha em si uma exortação ao estudo da filosofia. Ele na verdade mudou minhas afeições e encaminhou-me para Vós, Senhor, e transformou minhas preces em promessas e por outro lado fez meus desejos serem outros[1] (in CONFESSIONVM Liber III - 4.7).


Cícero, na verdade, representou um primeiro momento da nova vida de Agostinho, mas outros o seguiram, como Ambrósio de Milão (340-397), ministrante de seu batismo, neoplatônico, estudioso da gramática, da retórica, da literatura greco-romana e do direito; considerado um dos quatro máximos doutores da Igreja cristã:

  1. Inter hos ego imbecilla tunc aetate discebam libros eloquentiae, in qua eminere cupiebam fine damnabili et ventoso per gaudia vanitatis humanae, et usitato iam discendi ordine perveneram in librum cuiusdam Ciceronis, cuius linguam fere omnes mirantur, pectus non ita. Sed liber ille ipsius exhortationem continet ad philosophiam et vocatur Hortensius. Ille vero liber mutavit affectum meum et ad te ipsum, Domine, mutavit preces meas et vota ac desideria mea fecit alia.